quinta-feira, 22 de março de 2007

POEMA PARA O PAI

SINTONIA (Dedicado a Todos os Pais, especialmente ao meu)

Contigo, aprendi a saber o que é unidade
A ouvir o que não chega ser dito,
A sentir o que tu pensas,
Sabendo que pensas o que sinto…
Aprendi a saber de mim, através do que sei de ti…

Aprendi a conhecer o silêncio
A conhecer o seu dicionário mudo
Apenas pelo olhar,
Não preciso de palavras, para saber de ti
E sei que também não precisas
Porque sabemos o que sentimos…

Aprendi a suportar o mistério que nos une
A força que nos comanda
A energia que sentimos…

Aprendi contigo o valor de sermos “dois” e “um”
Estarmos juntos, estando separados,
Numa integridade única de quem sabe o que quer…

Aprendi contigo e com essa empatia
Que temos ainda muito que aprender
Que rir, cantar, chorar e amar
É apenas o segredo de sermos
Duas almas que sentem as dores um do outro…

MARIA CELIA SILVA

segunda-feira, 12 de março de 2007

É triste no Outono concluir

"É triste no Outono concluir que era o Verão a única estação"

Será da condição humana este sentimento? às vezes parece que nos falta o total discernimento perante as opções que a vida nos trás... temos medo de avançar, temos medo de recuar... temos afinal medo de viver. Mas se desta forma não fosse, a vida feita de constante mudança, o Mundo também não avançaria e não teria crecido em sabedoria, riqueza (espiríto). Falta muitas vezes é a lucidez, a alegria, a esperança, a capacidade de sofrimento...

terça-feira, 6 de março de 2007

No demorado adeus da nossa condição

Vamos durante uns dias, e porque este poema assim o permite, reflectir um pouco...
"No demorado adeus da nossa condição", dependo da nossa vida pessoal/profissional, poderá ser entendido como um "apegamento" à vida. Mas afinal que condição é esta de que o poema fala? a condição da vida frágil ou da vida forte que muitas vezes também temos na mão? condição de que não dependemos só de nós? de Deus? dos outros?
Será que quer dizer que também demoramos a crecer? a deixar de ser meninos para passarmos a ser adultos e depois não querer encarar a velhice?

No demora adeus da nossa condição, o que te sugere?

domingo, 4 de março de 2007

A mão no Arado

A mão no Arado...

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
Oh! Como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs de verão
ao longo do mar transbordante de nós
No demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua

É triste ir na vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no Outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solitário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de Novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente

Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente


Ruy Belo, in "Antologia da Poesia Portuguesa - 2º volume, Moraes ed.

O inicio

O inicio tem sempre uma justificação... porque sim deixou de ser a resposta!