domingo, 4 de março de 2007

A mão no Arado

A mão no Arado...

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
Oh! Como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs de verão
ao longo do mar transbordante de nós
No demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua

É triste ir na vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no Outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solitário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de Novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente

Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente


Ruy Belo, in "Antologia da Poesia Portuguesa - 2º volume, Moraes ed.

9 comentários:

Blue Eyes disse...

O último poema que o pai leu...vamos "conservá-lo"..porque de certeza que o levou no coração! E ainda mais a nós...tenho a certeza que jamais deixará de nos amar!! Vai ser para sempre o nosso querido Pai e nós as suas filhas muito amadas.. temos que tomar conta da Mãe por ele...

At Ento/ViverParambos disse...

Olá Anita_Belver.
Apráz imenso encontrar-te aqui, no teu espaço nesta aldei global.
Brinda-nos com um poema na qual sentimo a sonoridade da declamação do Drº Sousa, nosso querido amigo.
Que seja inspirador para sábiamente administares a tristeza da partida com a alegria da continuidade da sua mensagen que foi depositada na sua descendência.
Queremos ver-te com essa missão com a enegia com que ele sempre cumpriu. Viver a vida para ele sorrir sempre nos teus sucessos.
Conta sempre com a nossa amizade.
Saudações.
At Ento

Tatiana Rasteiro Coelho disse...

Olá Anita Belver,

mesmo no anonimato que este mundo global nos permite...é um prazer conhecer-te! Obrigada por partilhares connosco este poema tão profundo e que sei ter tão grande significado para vocês...
É bom podermos partilhar as nossas tristezas...sem vergonha! Mas desejo que o tempo deixe apenas lugar a uma enorme alegria...quando recordares quem tão cedo partiu das vossas vidas!

Saudações Com Amizade

E-Bunny (amiga da nossa Blue Eyes)

P.S. - Serás tu também muito bem vinda no meu blog: http://e-bunny.blogspot.com

Tatiana Rasteiro Coelho disse...

Olá Anita Belver,

mesmo no anonimato que este mundo global nos permite...é um prazer conhecer-te! Obrigada por partilhares connosco este poema tão profundo e que sei ter tão grande significado para vocês...
É bom podermos partilhar as nossas tristezas...sem vergonha! Mas desejo que o tempo deixe apenas lugar a uma enorme alegria...quando recordares quem tão cedo partiu das vossas vidas!

Saudações Com Amizade

E-Bunny (amiga da nossa Blue Eyes)

P.S. - Serás tu também muito bem vinda no meu blog: http://e-bunny.blogspot.com

Anita disse...

Li, obrigada pela amizade de sempre. A tua prendinha de Natal tem agora maior significado, ilumina aqui e além...

Anita disse...

e-bunny,

já visitei o teu blog (antes de ter este) e também já te conheço de um dia de piscina do meu Zé Pedro...

Beijinhos e obrigada.

Anónimo disse...

Olá amiga, agora sim já posso entrar na tua "cibercasa"... hum que palavra...
Um bonito poema, uma bonita recordação, o inicio de uma longa conversa com os teus amigos que virão aqui para saber como estás, para saber de ti.
Uma beijoca grande,
Sílvia Moura

Anónimo disse...

Ó Anita de Belver, mas que bela surpresa...
E que é isso, tu a falares na velhice. Vamos sim, pôr a mão no arado e olhar a vida de frente, porque para a frente é que é o caminho...
Espero que estejas bem e que faças bom uso desta imensa casa, onde caberemos todos os teus amigos.
Um abraço com a amizade de sempre.

Anita disse...

Ju,

um beijinho especial para quem temos no coração e sabemos também estar...
Gostei da expressão "vamos por a mão no arado" acho que era isso que deveriamos pensar todos os dias... ainda não sou capaz ao longo de todo o dia mas já vou caminhando.

Um beijinho grande